Hoje estive na terra de Régio! O meu Poeta! Linda essa minha segunda casa! Onde as recordações de infância me fazem sorrir! Já não sorria há muito tempo. Desde que meu coração se partiu! Mas, naquela janela virada para o mar, voltei a recorda-La! Naquela janela virada para o mar, voltei a abraça-La e naquela areia engolida pelo mar, voltei a beijá-La!
José Régio: 1901-1969
Libertação
Menino doido, olhei em roda, e vi-me
Fechado e só na grande sala escura.
(Abrir a porta, além de ser um crime,
Era impossível para a minha altura...)
Como passar o tempo?...E diverti-me
Desta maneira trágica e segura:
Pegando em mim, rasguei-me, abri, parti-me,
Desfiz trapos, arames, serradura...
Ah, meu menino histérico e precoce!
Tu, sim! Que tens mãos trágicas de posse,
E tens a inquietação da Descoberta!
O menino, por fim, tombou cansado;
O seu boneco aí jaz esfarelado...
E eu acho, nem sei como, a porta aberta!